Capítulo II - Despertar
Capítulo III - Primeiras Perguntas e Respostas
Capítulo IV - Segundo Despertar - As Revelações Continuam
Capítulo V - Lembranças de Um Dia no Futuro
Capítulo VI - Um Sonho Dentro do Sonho
Capítulo III - Primeiras Perguntas e Respostas
Capítulo IV - Segundo Despertar - As Revelações Continuam
Capítulo V - Lembranças de Um Dia no Futuro
Capítulo VI - Um Sonho Dentro do Sonho
VII - Pesadelo
A
luminosidade intensa parecia transpor as pálpebras cerradas de um Pedro
Nascimento entorpecido pelos acontecimentos intensos que acabara de vivenciar.
Sentia o impulso de abrir os olhos, apesar da claridade exagerada. Ao descerrá-los
brevemente, no entanto, um foco de luz de alta potência, direcionado
frontalmente para si, o fez contrair as pálpebras com força, fugindo do brilho
insuportável!
Alguém
deve ter percebido essa reação porque, quase imediatamente fez-se ouvir uma voz
irritada no recinto:
-
Acorda vagabundo!
A voz
enérgica, um hálito etílico e a autoridade violenta daquelas palavras injetaram
uma sobrecarga de adrenalina na circulação do garoto que se viu,
intempestivamente, despertado de um devaneio inexplicável para a infame
realidade de um recinto prisional:
- Está
pensando que pode vandalizar o que é dos outros e sair na mamata, seu fedelho? Nada
disso! Não na minha praia! Vagabundo nesta delegacia não tem vez! Me diz aí, ô
imbecil, quem são os outros marginais? - E Pedro sentiu uma forte bofetada
estalar-lhe o rosto enquanto tentava abrir os olhos, apesar da incidência do
foco de luz ofuscante diretamente sobre suas pupilas dilatadas. A cadeira em
que estava algemado balançou com a força brutal da pancada! Sentiu quando uma
gota cálida de sangue escorria de seu supercílio direito!
- Que
dia é hoje? O que é isso? O que está acontecendo? - Perguntou o rapaz,
atordoado, ainda sem atinar com a realidade e com a gravidade da situação.
- Que
dia é hoje? Tá pensando o quê, moleque? Quem faz as perguntas aqui sou eu! Mas vou
te dar uma dica: você tá na delagacia - ou no inferno, se preferirr - seu
vandalozinho desgraçado! E o que está acontecendo é que você está sozinho
porque os teus camaradas fugiram e te deixaram pra trás pra apanhar no lugar
deles! E pode acreditar que sou muito bom em descer o cacete em criminosozinho
fdp! Ou você me fala quem são seus camaradas e onde é que eu vou encontrá-los,
ou tu tá ferrado, pirralho!
O novo
golpe foi tão forte que derrubou o rapaz ao chão, junto com a cadeira à qual
estava agrilhoado. Um impacto da parte lateral de sua cabeça diretamente sobre
o solo provocou o primeiro desfalecimento do jovem impotente durante aquela
angustiosa sessão que invadiu a madrugada do dia vinte e cinco para o dia vinte
e seis de junho de dois mil e treze.
Neste
ponto, um pouco porque em nada me compraz detalhar os fatos dolorosos ocorridos
na delegacia durante aquela madrugada, um pouco para poupar a sua sensibilidade
à descrição de pormenores degradantes, deixarei por conta da sua imaginação,
leitor, se assim o desejar, a sequência dos acontecimentos que se sucederam até
um momento um pouco menos desumano desta
narrativa. Daremos então, para não correr o risco de nos aprofundarmos nesses
confins sombrios da sordidez humana, um salto de aproximadamente quinze dias a
partir daquela madrugada deprimente.
Nessa
data vamos encontrar nosso protagonista em estado comatoso, num leito da ala de
neurologia de um grande hospital público da capital paulista, o corpo repleto
de hematomas, com a cabeça circundada por ataduras e uma das pernas elevada por
um dispositivo ortopédico de tração!
Dessa perna, também envolvida por compressas cirúrgicas, pronunciavam-se
hastes metálicas unidas a vários dispositivos de fixação externos. Nosso
personagem fora submetido a um procedimento ortopédico e a uma neurocirurgia
devido a fratura craniana e hemorragia subdural. Após este último e delicado
procedimento, permanecera inconsciente. Era dolorosa a visão que se tinha do
adolescente vibrante de dias antes, nesse estado fragilizado!
Outros
desdobramentos graves, porém de menor interesse para nossa narrativa, também
tiveram lugar nesse intervalo, entre eles, apenas para melhor situar o leitor, é
conveniente observar que se deu uma sofrida movimentação dos pais de nosso
protagonista, aflitos e desamparados, junto à justiça e a órgãos públicos
indiferentes, com o objetivo de localizar o filho desaparecido. Depois de o
localizarem, absolutamente inconformados com a enorme afronta sofrida pelo
rapaz, os pais de Pedro, com os corações marcados pela dor e desprovidos de
posição social e de dinheiro, não se consideravam em condições materiais ou emocionais
de tomar as medidas imagináveis contra o poder público vigente, consumidos que
estavam diante de seu delicado estado de saúde.
Mas o
salto em nossa história, nos leva a um momento específico, aproximadamente às
nove horas da manhã do dia quatorze de julho de dois mil e treze quando,
contrariando os prognósticos médicos imediatos e para surpresa de todos, diante
de pequeno grupo familiar, constituído por seu pai, sua mãe e uma tia, Pedro,
como se simplesmente despertasse de um sono, abriu totalmente os olhos e
reclamou:
-
Tenho sede...
O
alvoroço foi geral! Até então, nos raros momentos em que, de seu estado de
inconsciência, os acompanhantes o tinham ouvido murmurar o que quer que fosse,
nada mais se tinha escutado se não delírios envolvendo paisagens do futuro,
incluindo tanto paisagens belíssimas quanto cenas calamitosas. O garoto, em seu
estado sonambúlico e inconsciente, balbuciara palavras ininteligíveis a
respeito de tecnologias desconhecidas, tivera alucinações com sociedades
avançadíssimas e clamara insistentemente
pela presença de uma figura luminosa, uma espécie de anjo, onipresente em seu
conturbado estado mental.
Mas,
para a alegria dos presentes, agora, pela primeira vez, Pedro parecia lúcido...
e tinha sede!
Gilberto de Almeida
09/08/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário